Já faz um tempo que me dei conta que não escrevo nada desde maio. Fico com pena de quem se inscreveu nesta newsletter achando que teria alguma palavra minha. Nem eu esperava um hiato tão grande.
A verdade é que tenho passado os dias, um após o outro, dominada por uma invencível preguiça. Venho adiando tudo, na mais intensa das procrastinaçõoes, deixando pra depois, pra depois, e chegamos em dezembro, praticamente.
O fato de que me lembro ainda muito bem do final do ano passado (não sem um tanto de saudade) não tem ajudado.
Se alguém me pedisse uma explicação pelo sumiço, eu não saberia dar. Talvez depressão explicasse - deveria procurar um profissional, mas adivinhe? Preguiça.
Se fosse descrever, diria que é um grande cansaço do mundo. Não tenho mais vontade de assistir nada. Todas as bandas, filmes, séries, músicas da moda me cansam profundamente. Não vejo mais sentido em limpar a casa, cozinhar o almoço, fazer qualquer esforço.
O mundo está afundando e caminhando para um fim terrível e em vez de fazermos algo para frear isso, somos obrigados a continuar trabalhando. Todos os dias árvores deixam de existir para dar lugar a prédios tecnológicos, um pedaço da Amazônia ou do Pantanal desaparece para ser ocupado por boi e soja.
Vai resolver continuar lendo os livros empoeirando na estante, fazendo pequenos protestos enquanto quem realmente detém o poder continua acumulando dinheiro e nos obrigando a enriquecê-los até a nossa morte?
Em vez de fazer qualquer coisa deito na cama e olho para o teto, consumida por um esgotamento que não vai embora. Esvazio a mente com um joguinho de juntar alimentos. Dois pepinos fazem um aspargo. Dois limões fazem um coco. Jogo tudo na panela e espero ficar pronto. A única coisa que me animo a cozinhar, afinal, é uma comida que nem existe.
Depois me lembro de que tive alguns momentos prazenteiros, talvez eu tenha gritado até perder a voz, ou esbravejado na frente de um clube de futebol. Talvez também tenha adotado um novo animal de estimação, talvez tenha passado raiva, li uma ou outra coisa que me deixou pensando, mas não, não quero falar sobre isso.
Eu perdi a vontade de compartilhar. Tanto faz de estou contando pra alguém o que vivi, como me sinto, ou o que me deixa tão reflexiva. Não faz diferença nenhuma contar, e adicionar mais um estímulo aos milhões de outros, mais um conteúdo pra cansar mentes desavisadas.
Faz falta também a falta de uma perspectiva, de uma companhia para ir à feira, um sonho que se possa sonhar junto de outra pessoa. Todas as pessoas, porém, me parecem infinitamente chatas, e sigo delirando sozinha com os universos da minha cabeça.
Faz falta uma flor pelo caminho, um pedaço de mar, uma comida nova, algo que acelere meu coração.
Faz falta tanta coisa, mas não tenho a energia pra ir buscar, e é por isso que acordo de madrugada com os olhos abertos de desespero e vou juntando pepinos na panela, na esperança de que a mente vire um grande e confortável nada.
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Se você chegou até aqui e gostou desta newsletter (coisa que duvido muito), considere indicá-la para mais alguém. Quem sabe até maio do ano que vem eu consiga escrever mais alguma coisa (risos nervosos).
Se quiser conversar sobre qualquer coisa, é só responder este e-mail. Nos vemos na próxima edição - mas só Deus sabe quando.