As não-leituras de 2023
Quando o que você não leu ocupa o lugar do que você realmente leu
Este ano foi mais de leituras que tive vontade de fazer do que lendo de fato alguma coisa. Foi por essa vontade que comprei inúmeros livros, pensando em quando chegaria o momento perfeito de ler, aquela vontade genuína de fazer aquela leitura, mas o momento nunca chegou. Me sentia mal, desmotivada e desanimada a maior parte do tempo e isso afetou a minha capacidade de ler ou concatenar qualquer ideia nova.
Já admiti meu fracasso no desafio do Goodreads deste ano, então eu simplesmente parei de procurar leituras curtas pra completar o desafio e aceitei que este ano não deu. Aliás, “este ano não deu” podia bem ser meu lema para 2023, mas fica pra última carta do ano. (Sim, eu recobrei o fôlego agora e estou escrevendo mais cartas em um mês do que fiz o ano inteiro, me aguentem. Não estar trabalhando colabora muito com isso e só reforça a raiva que tenho de trabalhar um dia inteiro todo santo dia e solapar a minha criatividade e vontade de viver, mas essa conversa também fica pra outra hora).
Talvez você esteja se dizendo “eca, desafio” e a verdade é que faço isso sem pressão. Estou sendo sincera! Sou uma pessoa que tem alguns -cof, cof- problemas de disciplina e precisa de acompanhamento do progresso pra se sentir motivada. Não consegui completar, é chato porque eu realmente queria ter lido mais, mas não é o fim do mundo. Este ano, como eu disse, foi um grande não deu.
E ainda por cima foi um ano de poucas leituras que realmente me impressionaram. E talvez não seja culpa dos livros, mas minha que perdi o tesão em existir, a verdade é essa.
Mas uma coisa nas minhas leituras mudou MUITO: a recusa em ler autores estrangeiros e principalmente estadunidenses ou europeus. Chega. Não quero mais saber da prosa dessa gente (a não ser que sejam originários ou negros).
E isso me leva à minha recente resolução: ler o máximo de autores indígenas que eu puder. Priorizar coisas produzidas por quem tem menos voz na literatura. Claro que pode ter uma exceção aqui e ali, mas eu quero me aprofundar na cultura dos povos originários. Conhecer novas maneiras de viver, de interagir com o mundo e quem sabe, descobrir uma forma de salvá-lo.
Devo dizer que devo muito do meu despertar para a cultura dos povos indígenas por causa da cultura do boi-bumbá e do Festival de Parintins. Um dia ainda falo sobre isso.
Curiosamente, estes foram meus livros preferidos neste ano (só agora reparei que li o que mais gostei em sequência):
Eu gosto muito, muito dos livros do Ailton Krenak. O modo dele de dizer as coisas, muito direto e até com raiva, mas de maneira poética. O tanto de esperança que a gente sente quando se dá conta de que sim, ainda há o que fazer, mas o que temos hoje tem que ser destruído. Pra ontem. É um misto de esperança, raiva e ternura. Só lendo pra entender.
O livro do Michael Zaramella, No Gramado Em que a Luta o Aguarda, é um livro pra quem gosta de futebol. E pra quem gosta do Palmeiras. Eu gostei muito, diria que é um livro mesmo necessário, porque desfaz um monte de mitos que se falam sobre o clube por aí. Uma pesquisa histórica muito bem feita, bem amarrada.
E por fim, o livro da Tatiana Lanzzarotto, Quando as árvores morrem. Um livro muito triste e muito bonito sobre luto, sobre a perda do pai, e a perda de toda a vida que a família tinha e como a personagem principal lida com todos esses processos. Leituras sobre luto me interessam muito, e este aqui é um dos que vale a pena.
Espero que no final do ano que vem eu tenha mais leituras pra comentar - se depender do que ando planejando, vai dar bom! (Em breve conto tudo pra vocês!)
E por aí? Como foram as leituras deste ano?
Com afeto,
Lilian