Enquanto criava um endereço de e-mail para cadastrar uma chave pix na conta de banco que separei para receber possíveis doações (falei disso na última newsletter, não sei se você leu), uma ficha muito grande caiu.
O nome da minha newsletter foi escolhido meio de qualquer jeito, como tudo que ponho nome. (Reconheço que esse não é meu grande talento).
Porém, talvez tenha sido uma espécie de ato falho um pouco torto: achei que era um nome meio afetado, um tanto de drama, na minha vida pouco acontece, que raio de mundo caótico é esse que só existe na minha cabeça?
A gente anda no meio do caos, do bizarro, do surreal, sem perceber. Minha vida é um grande caos, uma piada de mau gosto e a gente não percebe isso até dizer ou escrever em voz alta (considero conversas no WhatsApp a versão escrita de falar em voz alta).
Recentemente veio a grande percepção da absoluta loucura, a grande bizarrice que tem sido minha existência conversando com alguns amigos. A gente, quando cresce no meio do trágico, cria estratégias sem perceber para sobreviver acrescentando um tanto de normalidade ao que nunca foi normal.
Tem sido todo um evento de elaboração do absurdo dentro da minha cabeça, um misto de “não é possível que isso tenha me acontecido e eu tenha achado que era aceitável” e “como eu cheguei aqui, meu pai amado?” e cuja conclusão assustadora tem sido “como é que eu saio daqui?”.
Estou quase mandando pintar uma faixa pedindo socorro porque o caso é de pedir socorro.
Como é que a gente se reinventa na metade do caminho dos quarenta e tantos anos, como a gente “rise up and still stand”? Como é que a gente encontra alguma mão que nos puxe pra fora do buraco?
Minhas certezas estão sendo bastante abaladas pela descoberta de que eu nunca gostei de fato da solidão, estou sendo condicionada por ela desde muito cedo, por circunstâncias que nunca procurei. E agora?
Como sempre, procuro respostas nos livros. Estou tentando me convencer a mergulhar em “Pertencimento”, da bell hooks, mas com medo de chorar demais de desespero da minha própria desgraça; e em “A Cidade Solitária” da Olivia Laing que explora esse viver só em uma cidade enorme, mas me irritou um pouco pois a cidade enorme é Nova Iorque, e tenho rejeitado tudo que vem daquele país, apesar de reconhecer que ali é um local muito apropriado para se explorar esse tema da solidão em meio à multidão.
Também me irritou um pouco esse espanto de que viver solitariamente possa ser uma experiência válida, essa coisa de que ser solitário é uma tragédia. Podia dizer que sou a prova viva de que isso não é verdade, mas cá estamos falando da grande ficha que me caiu que inclui conclusões sobre o estar sozinha que estão me atormentando
A vida é uma contradição.
Praticamente todas as boas lembranças dos meus últimos dez anos de vida foram produzidas em momentos solitários, que só meus olhos testemunharam, que não tem mais ninguém além de mim pra lembrar. São alguns dos momentos mais caros pra mim. Não são menos válidos porque estava sozinha.
De toda forma, acho que vou acabar lendo o livro inteiro, e minha cabeça vai explodir - se com a amostra do Kindle já estou pensando pensamentos, imagina o restante.
Terminando as duas leituras, prometo mais comentários.
A conclusão a que chego com toda essa pensação é: como vamos nos adaptando para sobreviver. Ainda que o que deixamos pra trás seja extremo e absurdo. É uma prova de força? Sinceramente, não sei.
Gostaria de não ter caminhado por estradas tão complicadas e de não ter essa certeza a ser questionada a esta altura da vida, queria ter outras certezas, talvez um pouco mais simples, com certeza menos sofridas.
Como me disse uma pessoa amiga recentemente, quando reclamei que minha roteirista era a Glória Pérez: mereço uma autora melhor pra minha vida. Glória Pérez é muito ruim.
Minha questão tem sido saber como contratar um autor melhor.
Sugestões?
Uma coisa engraçada aconteceu. Na última edição da newsletter, decidi escrever sem pensar muito, e mandar pensando menos ainda. Porque sempre bate na cabeça da gente essa coisa de “o que eu faço tem valor, será que alguém vai ler, vai gostar disso aqui?”.
E ressoou em mais gente do que esperava, nunca fui tão lida, nunca ganhei tantos novos assinantes. Aliás, sejam bem vindos todos! E todas. Mais todas do que todos. Enfim, divago.
Estou muito agradecida, reconhecida e feliz. Obrigada a quem compartilhou, a quem comentou, dividiu comigo essa mesma sensação de busca que acho que tem estado nos corações e nas mentes de muito mais gente do que a gente imagina.
Nem sempre vou acertar, mas acho que o caminho é por aí. Ser eu mesma, sem muita firula. Por isso, o tema dessa edição tem mais ou menos a mesma toada. Sei lá, achei que devia. Vou descobrindo e me encontrando no caminho até a escrita, por aí.
Agradeço também à pessoa que me enviou meu primeiro apoio financeiro! (Sim, fiquei tão feliz que acreditem em mim rs). Virou livro que assim que eu conseguir terminar deve virar tema de uma edição futura dessa caótica publicação. Se você achar que faz sentido, aí vai meu pix: omundocaoticodelilian@gmail.com
Ainda estou pensando em coisas caóticas para fazer nesta caótica carta que chega nas caixinhas de vocês assinantes. Fé que sai!
Com amor e até a próxima!
"Minhas certezas estão sendo bastante abaladas pela descoberta de que eu nunca gostei de fato da solidão, estou sendo condicionada por ela desde muito cedo, por circunstâncias que nunca procurei. E agora?"....
Profundamente abalada e identificada no seu texto...
Tenho por mim que não saber as respostas é o que nos faz continuar tentando Lilian (embora seja absurdamente difícil muitas vezes).