Eu odeio trabalhar
Pronto. Podemos tirar esse elefante da sala. Pode me chamar de vagabunda.
Agora, no meu terceiro dia de férias, a cabeça já começou a desanuviar, alguns planos surgem - embora nenhum deles seja o que eu realmente queria, porque a questão financeira anda realmente complicada.
Planejo fazer tudo aquilo que faria se tivesse todo o tempo do mundo disponível, como ir numa cafeteria despreocupadamente à tarde, flanar pela cidade, ir à minha quitanda favorita, ficar sem fazer nada.
Eu queria mesmo é viajar e fazer todas as coisas que sempre quis, mas não sei. Talvez nunca mais volte a fazê-las.
Vou fingir por um mês que tenho todo o tempo do mundo, no entanto. Mas a verdade, a verdade bem verdadeira, é que não aguento mais trabalhar. Não aguento mais ir todos os dias fazer as mesmas coisas estúpidas, ficar trancada o dia inteiro num escritório só porque seus superiores precisam ter certeza que você está ali.
Talvez a gente não deva mesmo colocar toda a nossa expectativa no trabalho, essa coisa que amar o que faz, mas… cê já experimentou ODIAR o que faz, assim com todas as letras? E continuar se violentando todo dia porque “não tem lugar que pague bem como aqui”, porque “já pensou ter que começar tudo de novo?”, porque “a iniciativa privada tá muito pior do que aqui”.
Não é questão de ter um trabalho suportável pra conseguir o que você quer, é ter um trabalho insuportável e não conseguir ir a lugar nenhum. Viver quantos anos mais assim? Morrer trabalhando e ainda por cima em algo que não tem nada a ver com você, com cada dia menos direitos, com superiores cada vez piores?
Pra que?
Estava pensando em escrever algo sobre trabalho, e isso é uma questão que me incomoda demais, como vocês podem perceber. Quebrei até minha regra de não comprar livros (na verdade enfiei na brecha que eu mesma criei que me liberava pra comprar livros de pesquisa ou para a faculdade), mas a verdade é que estou desesperada por uma saída.
Não quero viver nem mais um minuto nessa gaiola onde eu mesma me enfiei há vinte anos atrás.
Vivo um misto de desesperança e de indignação, uma contradição entre achar que ninguém deve esperar realização no trabalho e depois pensar que, sim, a gente devia ter o direito de fazer algo que fizesse sentido e não tornasse o processo todo tão penoso.
Ainda estou elaborando muitas coisas aqui por dentro e tentando encontrar uma saída para a minha gaiola pessoal, e pretendo compartilhar minhas descobertas, quem sabe, numa edição mais elaborada desta newsletter. É incrível como minha mente se sente livre longe daquele lugar, daquele ambiente, daquelas pessoas.
Eu preciso encontrar um meio de viver sem morrer a cada dia no processo (e morrer aqui é literal, passei os últimos dias me arrastando e sentindo uma dor física todos dias pra ir trabalhar, meu corpo dando todos os sinais de que não ando bem).
Talvez seja burnout, talvez seja cansaço da vida. Estou quase desistindo, mas não desisti. Ainda. Tenho 30 dias (que vão me custar caro e uma perda considerável no salário, porque agora trabalhar para o estado de São Paulo é isso, férias é castigo - a ponto da moça do RH perguntar se eu realmente queria sair, porque eu ia perder dinheiro demais. Sim, eu quero sair, porque a outra alternativa incluía encontrar uma maneira definitiva de não ir mais que iria deixar meus cachorros órfãos).
Então, cá estou eu, descansando um pouco, mas me preparando para pensar racionalmente em alguma saída. Tem que existir.
Torçam por mim.
Eu, que não suporto ouvir minha própria voz, estou pensando em começar… um podcast. Mas não tenho a menor ideia de como se chamaria.
Estou tão empolgada com a ideia que comecei meia dúzia de cursos na Domestika (minha resposta pra qualquer coisa é ler livros e me matricular em cursos, o que talvez diga muito sobre minha personalidade delirante que inventa planos infalíveis).
Aceito sugestões de nomes. Se você tiver algum, pode responder a este e-mail.
É incrível como não escutar nosso corpo e fazer algo que não estamos mais a fim pode nos adoecer. Pensei ainda mais nisso depois de assistir a este vídeo aqui:
De onde tiraram a ideia de que só se pode escrever o que o outro quiser ler?
De onde tiraram que não se pode mais escrever texto pessoal, desabafo, de compartilhar o que tem dentro de si?
Quem disse que o que você acha que o outro quer ler é realmente o que o outro quer ler?
Nem sempre o que precisamos ler é o que queremos.
Sigo escrevendo o que me dá vontade porque a vida é curta demais pra só passar vontade.
Eu, hein.
Estava resolvendo uma pendência numa universidade onde estudei (quem lê isso pensa que era uma coisa muito chique, mas era só uma uniesquina ead) e entrando na plataforma estavam lá as antigas disciplinas do curso de gastronomia. Lembrei das fotos que precisava tirar para o curso (dos pratos, minha segurando os pratos) e me deu uma saudade. Saudade do que podia ter sido e não foi, do caminho que podia ter tomado e foi interrompido.
Poderia retomar esse caminho? Sim, mas sinceramente não sei se cozinha é algo que eu ainda queira. Me desliguei totalmente desse mundo, hoje em dia mal cozinho, não tenho tempo e nem energia. Tanta coisa mudou na minha vida, e pra pior. É só a nostalgia de mais uma possibilidade perdida.
A pendência é um precedente de mais uma das minhas ideias insanas. Sempre o pássaro se debatendo pra sair da gaiola.
Meu lema pra qualquer coisa que faça hoje em dia é: “Está melhor do que estava? Então está bom demais”.
Coisas que vi por aí
A vida no Vietnã, ora vejam só, se parece com a vida de qualquer lugar no mundo. Como é bom o socialismo. (Adoro um vídeo de supermercados em outros países).
Nos dias mais tenebrosos de março, Anita Tijoux foi minha companhia, isolando meus ouvidos do resto do mundo. Acho tão triste que a música dos nossos vizinhos de continente seja tão ignorada. É tão rica. Esta canção específca, Somos Sur, tem a participação de Shadia Mansour, uma rapper britânica de origem palestina que tem uma voz tão poderosa que quando vi o clipe, me surpreendeu como pode sair tanta potência de uma aparência tão delicada.
Espero que nos vejamos em breve!
Com amor, talvez,
Lilian
Nossa, super te entendo e espero muito que você encontre uma solução. Se me permite compartilhar a minha, foi tentar recomeçar mais próxima do que eu sou. Nenhum trabalho é bom de verdade, mas a vida é curta demais para ser miserável cinco dias por semana.
Oi, Lilian. Vim aqui te dizer que já senti tudo isso (e já escrevi um pouco sobre tb, se te interessar ler!). O que me tirou desse abismo foi criar um trabalho q eu pudesse fazer de forma remota. A vida no escritório não é mesmo para todos. Querendo conversar, estou por aqui.